segunda-feira, 2 de julho de 2007

Japoneses no Brasil X Brasileiros no Japão




Nesse final de semana aconteceu o Imim Matsuri em Curitiba, abertura dos 100 anos de imigração japonesa no Brasil.
Encontrei com Sílvio Sano, ou Silvio Sam que escreveu o livro “Os sonhos que de cá segui”. Li o livro que há tempos procurava...Conta a história de um casal que foi para o Japão tentar a vida, junto com seus dois filhos. Parei para refletir sobre o valor de “gambarê”! Um livro de Ayabe.
Os japoneses têm um espírito incrível de luta.
Os primeiros japoneses que desembarcaram no navio Kasato Maru passaram por experiência semelhante a dos dekasseguis de hoje, enfrentando a diferença de costumes, tradição e língua do Brasil.
Comparei os dois povos: Os japoneses de 1908 e os dekasseguis da década de 80.
Não costumo defender um povo e nem generalizar, mas um ponto importante para o sucesso dos imigrantes japoneses no Brasil foi exatamente a persistência e a dedicação destes.
Mesmo sendo enganados e jogados nas fazendas, sendo obrigados a morar em casebres antes ocupados por escravos, acordando antes do raiar do sol e trabalhando arduamente nos cafezais, os imigrantes japoneses nunca desistiram e venceram!
Muitas famílias de japoneses que tinham uma vida estável, residentes principalmente próximo ao litoral do Brasil, foram totalmente desestruturados na época da Segunda guerra. Tratados como animais e perseguidos, continuaram com persistência a lutar pelo futuro dos filhos.
Hoje vejo muitos dekasseguis reclamando da moradia que na maioria das vezes é comparada a uma caixinha de fósforo ou fica longe do supermercado, shopping e lojas de conveniência.
Não aceitam as regras impostas pela sociedade japonesa e muitos não respeitam sua hierarquia secular.
Dizem frases como “Eu só quero é ganhar o dinheiro dessa porcaria de Japão e ir embora!”. Não se conformam com a vida que escolheram.
Os imigrantes japoneses não tinham a internet para pesquisar sobre o país que iriam adentrar e se aventurar. Viajaram em um navio onde foram acometidos por doenças, falta de higiene e alimentos.
...Li sobre a história de que uma japonesa que foi estuprada por um maquinista do navio.
Detalhe apenas!
Onde está o povo batalhador e corajoso? O povo garantido!
Os imigrantes japoneses criaram raízes no Brasil e contribuíram muito para o desenvolvimento de nosso país em vários setores da economia e até na política.
Com a criação de uma comunidade brasileira no Japão está praticamente comprovado o surgimento de uma raça mutante. Nem japoneses e nem nikkeis.
Uma raça sem muitas perspectivas sobre e para o futuro. Valorizam mais o salário e menos a educação dos filhos. Valorizam a cultura brasileira quando estão no Japão e quando estão do Brasil, sentem saudades do Japão.
Que final terá essa história?

Será o início da antiga história do Katigumi e Makegumi?

No livro do Silvio, ele conta a história do dia a dia do personagem Pedro. Seus pensamentos e suas atitudes. Engenheiro que não conseguiu emprego em sua área e tornou se um simples vendedor. Privado de certas mordomias escolheu ir para o Japão com a família para trabalhar nas fábricas. No primeiro emprego foi enganado pela agência, pela empreiteira e mal tratado pelo chefe. Desde o momento que desembarcou no Japão teve problemas. No trabalho teve problemas. Isso tudo aconteceu. Foi fato! Sofreu e entrou em conflitos!
A esposa, ao contrário se adaptou bem no trabalho. Compreendia os valores da sociedade japonesa.


Será que existe relação?
Tem respeito quem respeita. É Aceito aquele que aceita!
Ação e Reação.

Sempre me emociono com as histórias contadas pelos amigos de 60, 70 e 80 anos de idade. Uma história de quase 100 anos de luta e sucesso que está prestes a definhar.
Emociono-me também quando ouço relatos de dekasseguis que estão lutando e sofrendo nas fábricas japonesas e mesmo assim nunca deixaram de respeitar a tradição e costumes da sociedade e ainda agradecem a oportunidade. Pena que é minoria.

Meu pai, japonês, sempre batia em mim quando eu transgredia alguma norma imposta em nossa casa. Como não somos perfeitos, algumas vezes infringia. Vez ou outra falava um palavrão, esquecia de sentar a mesa de maneira correta ou esquecia de tirar o sapato para deitar no sofá da sala.

Tentava agir da maneira que meu pai ensinava em casa, mas aprendia e agia de outra maneira na escola.
Aprendi a mentir para me livrar dos castigos.
O dia que meu pai descobriu, baixou a cabeça.

Ficou triste.
Aceitou que toda lição que aprendeu no Japão, não servia no Brasil.

Meu pai é um japa esperto!